A visão feminina do mundo da bola no Pará.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Até quando?

O Futebol tem os dois lados da moeda. O esporte quebra barreiras e paradigmas desde o seu início e ao mesmo tempo reflete a sociedade, mostrando seu lado ruim e trazendo a tona atos de racismos. Infelizmente esses casos têm se tornado constantes, as vezes entre jogadores, torcidas e até mesmo partindo da torcida para com jogador.


Em 2005, Antônio Carlos Zago provocou Robgol, chamando Belém de “terra de índio” e chamando o jogador de indígena, durante uma partida entre Paysandu x Juventude. O jogador do Paysandu resolveu responder a provocação durante a comemoração de seu gol:
(Vídeo gravado do YouTube: Danilo Cardoso Vídeos)
Um ano depois, Zago novamente protagonizou outro caso de racismo. Ele esfregou os dedos no braço enquanto olhava para Jeovânio, jogador negro do Grêmio. O zagueiro do Juventude negou, mas pegou 4 meses de suspensão.

No dia 3 de fevereiro, numa partida válida pelo Brasileirão Feminino de futebol entre Foz Cataratas x Pinheirense, a atleta Janaína foi vítima de outro caso de racismo. A atleta paraense, em entrevista ao Cabanas em Campo, contou um pouco mais sobre o ocorrido.
(Foto: Rodrigo Pinheiro | @RodrigoPinhro)
CEC (Cabanas em Campo) – Sobre o que aconteceu em Foz do Iguaçu, você pode nos relatar o ocorrido e a sua primeira reação?
Janaína – Nós estávamos no jogo e eu fui fazer meu papel de zagueira. Fui marcar a atacante de Foz do Iguaçu (Foz Cataratas – grifo nosso) e no momento que eu fui corpo a corpo nela, pra marcação, ela começou a se limpar como se tivesse sentindo nojo de mim e disse “saia daqui que você tá fedendo, sua macaca”. Eu pensei em revidar de inicio, mas eu pensei no meu time e no jogo que nós já estávamos perdendo. Então eu não poderia perder a cabeça naquele momento e relevei a atitude dela que por sinal foi uma atitude racista. E ao final do jogo no encontro no vestiário com os meus professores e as minhas colegas de clube, eu disse o que havia acontecido, meu professor me levou até a atleta e o professor dela do Foz do Iguaçu (Foz Cataratas – grifo nosso), para ela pedir desculpa pra mim. Chegando lá ela agiu de forma super debochada comigo, todos os que estavam presentes La viram a forma debochada que ela agiu quanto a mim. Foi isso o que aconteceu, eles ainda passaram a mão na cabeça dela dizendo que eu queria “criar situações” e o técnico dela ainda disse assim “olha, sabe qual a melhor coisa que vocês fazem, peguem logo as coisas de vocês e vão logo embora daqui”. Ele disse isso pra mim e pro meu preparador físico.
CEC – Você achou que de alguma forma, este incidente afetou teu desempenho no jogo?
Janaína – Não, não afetou meu desempenho. Eu me mantive firme ali. Na verdade isso não afetou em nada em mim, mas eu fico triste pela pessoa que ela é para ter feito isso, tomado essa atitude. Eu fico até com pena dela.
CEC – Você pensou em tomar alguma medida? Comunicar a CBF em conjunto com a equipe para que isso não volte a ocorrer com outras atletas, como aconteceu contigo? 
Janaína – Olha, na verdade não é a primeira vez que acontece, porque nós quando saímos aqui do Pará, chegamos lá e somos muito discriminadas, somos chamadas de índio e várias outras coisas. Isso já aconteceu algumas vezes em campeonatos passados, e essas atitudes racistas e foram comunicadas a CBF e não aconteceu nada. Por isso a gente preferiu nem colocar na súmula, porque nunca acontece nada, eles não tomam nenhuma atitude.
CEC – Além dessa situação de racismo, você já vivenciou alguma outra forma de preconceito?
Janaína – Não, não. Na verdade o que acontece é isso mesmo, nós saímos aqui do Pará para outros estados e as pessoas tem outras ideias sobre nós. Pensam que nós somos índios e tudo mais, que a gente até anda com jacaré aqui e etc. essas coisas bobas, coisas que chegam até ser muito grotescas; fora da nossa realidade.
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Nós do cabanas em Campo, abominamos todo e qualquer tipo de preconceito, dentro e fora de campo, seja por raça, opção sexual ou gênero. Torcemos para que isso não volte a ocorrer, mas também queremos que ajam punições severas àqueles que agirem de tal forma. Não queremos outras Janaínas, Jeovânios ou Robgol's. Isso precisa mudar.
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