Rejeitado pela sociedade, o Futebol Feminino tem uma história conturbada
no Brasil. Uma história recheada de preconceito que nos mostra que as
dificuldades para praticar o desporto, ainda presente nos dias atuais, sempre
existiram.
Em 1913 ocorreu a primeira partida “feminina” de futebol, num evento
beneficente. As aspas se fazem necessárias porque, por um tempo, se pensou que
este havia sido um jogo realizado só por mulheres, mas na verdade, entre os
participantes havia homens vestidos para parecerem como uma, misturados a
algumas, e poucas, mulheres. O primeiro jogo, de verdade, só ocorreu em 1921.
O esporte foi ridicularizado, foi exibido em circos, como uma “atração
curiosa”. Já que para a socidade, era considerado “absurdo” que as mulheres
participassem disso. O Futebol Feminino definitivamente não agradava as
famílias conservadoras e por isso, no dia 4 de abril de 1941, na Era Vargas,
surgiu o Decreto-Lei 3199, proibindo o esporte, junto de alguns outros, por ser
considerado “incompatível com a natureza feminina”.
(Foto: Correio do Paraná/Reprodução) |
Anos depois da proibição, em 1958, surgiu o primeiro time
profissionalizado, o Araguari Futebol Clube. Porém não durou mais do que um
ano, por pressão das freiras e dos religiosos, que fizeram o Decreto-Lei valer.
Este só foi revogado em 1979. Foram 38 anos de preconceito gritado e depois
deles, já vieram mais 38 de preconceito velado.
Porém, há quem diga que os tempos estão finalmente mudando para essas
mulheres, que enfrentam de tudo para conseguir se tornar atletas. Na tarde do
dia 26 de julho de 2017, tivemos a esperança de que isso fosse verdade. O
Pinheirense levou cerca de 12 mil pessoas a Curuzu, na final da Série A2 do
Brasileirão Feminino, num estádio com capacidade de 16 mil. Foi o maior público
do estádio no ano. As filas intermináveis em volta do estádio e a imprensa em
peso fizeram brilhar o olho dos amantes deste esporte que viram, finalmente, a
valorização dele. Ao fim do jogo, a pergunta foi: isso vai durar?
(Foto: Marcelo Maciel) |
Quem acompanhou o Campeonato desde o começo e buscou informações sobre o
Brasileirão Feminino na grande mídia não teve retorno. Os locais e horários dos
jogos não foram informados e, na primeira fase, sequer foi mencionada, por
segundos que fossem, a situação dos times paraenses nessa Série A2. Sem notinha
de rodapé. Nada. A jogada da mídia permaneceu a mesma: ignorar o esporte. Mas
mesmo sem esse apoio e sem essa visibilidade, o Pinheirense garantiu o acesso
(e foi campeão) e a Tuna só não passou para as fases finais por culpa do saldo
de gols.
Imagina então se falassem mais, se elas pudessem ser mais mostradas e
por conta disso, conseguissem um grande patrocínio. Imagina se elas pudessem
fazer do futebol, o único meio de sustento, como acontece no masculino, sem
precisar trabalhar em outros locais para manter o sonho.
Imagina se nós pudermos fazer algo para mudar a situação que se encontra
o Futebol Feminino, mostrando para a mídia que nós queremos saber sim, nós
queremos que elas sejam mostradas e noticiadas, queremos saber quando tem jogo
e onde ele vai ocorrer, porque nós queremos estar lá. Imagina se alguns de nós
pudesse escolher não fazer certos comentários, escolher não propagar o
preconceito. É… tudo isso nós podemos. Sim, nós podemos nos tornar responsáveis
por reescrever toda essa história conturbada e cheia de preconceito. Basta
querer. Querer fazer parte, querer ser o apoio que elas precisam.
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